SALA 07 – 7º andar  

_Devolver o fogo

curadoria de Daniela Moura e Luciana Molisani

O aborto, espontâneo ou induzido, é uma experiência que atravessa as histórias da humanidade, do corpo social da nossa espécie, tal qual a gestação e o envelhecimento, a vida e a morte. Um ato que, praticado sob controle médico pode ser simples e seguro, quando cometido na clandestinidade subjuga mulheres a condições perigosas.

Aos 40 anos, uma em cada sete mulheres cis já abortou pelo menos uma vez no Brasil. É uma experiência que faz parte da vida coletiva, embora vivida de maneira sigilosa, resignada a uma mudez traumática e penitente, especialmente para as mulheres.

Enquanto isso, na esfera pública, conservadores de direita pautam a criminalização como bandeira de um moralismo comportamental convenientemente restrito ao corpo do outro. Como parte de estratégias eleitoreiras, a representação se tornou uma arma ideológica central. No Brasil, uma mulher “encena” um feto em pleno Congresso Nacional, enquanto nos Estados Unidos ativistas antiaborto utilizam imagens ampliadas como estratégia de choque e constrangimento em passeatas e na porta de centros de saúde que realizam o procedimento legalmente.

É necessário devolver o fogo, responder à artilharia com outras imagens, para não haver ainda mais terra arrasada. Fogo que expõe e devasta, mas também aquece, protege e transmuta. A contra-golpe, mulheres, mães, companheiros, pais, filhos e, sobretudo, artistas, compartilham relatos, testemunhos e manifestos visuais que atuam na disputa do imaginário e da memória social sobre o aborto e a luta pelos direitos reprodutivos. São histórias de luto e revolta, mas também de acolhimento e profunda solidariedade, que ecoam e reverberam, com suas especificidades, para além dos seus contextos sociais e territórios geográficos.